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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Pintores Renomados Brasileiros _ Anita Malfatti


Anita Malfatti foi uma pintora, de fato, talentosa, mas o que muitos não sabem sobre ela, é que ela representou bem mais do que isso. Para dedicar-se às Artes Plásticas, Anita teve de vencer o desafio de uma artrose deformante e condicionar a sua mão esquerda para aprender a pintar. Anita Malfatti foi um exemplo de superação em muitas situações na vida. E um detalhe: ela teve de fazer isso, ainda criança, quando começou a ter suas primeiras aulas de arte, com cerca de nove anos de idade.

Filha de imigrantes, um italiano e uma norte-americana, Anita nasceu em 1889, no dia 02 de dezembro, e logo se percebeu que tinha uma atrofia causada pela artrose, que atingiu o braço e mão direita, causando paralisia, mas que com a perseverança que tinha e a ajuda que obteve através de aulas com Mrs. Browne, Márcia P. Browne, que foi uma educadora americana que veio à São Paulo, a convite de Horacio Lani, a pedido de Caetano de Campos, com a finalidade de organizar o ensino primário numa escola americana, anexa ao Colégio Mackenzie. Ao que parece, a instrutora Marcia, foi quem ministrou-lhe aulas e lhe ensinou a dominar o movimento da mão esquerda, embora sendo ainda uma criança, foi incentivando Anita a continuar almejando seus interessses artísticos.

Anita iniciou seus estudos em 1897, em 1903 foi para a Escola Americana e enfim, seguiu seus estudos até a formatura de normalista em 1906 no Colégio Mackenzie. Um período pós a morte de seu pai, Samuelle Malfatti, sua mãe, Elizabeth Krug, precisou dar aulas particulares de idioma (inglês) e de pintura, sob a orientação de um pintor conhecido da família, chamado Carlo de Servi e de cuidar de um parente acamado (sua avó), restando-lhes poucos recursos para que ela conseguisse ir à Paris, seu sonho, e estudar Arte, nesta época, Miss Browne já não se encontrava no Brasil, pois, havia retornado aos Estados Unidos. E foi com a mãe, pois Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu tempo, que Anita entrou com firme pé, no mundo das artes plásticas.

Sem desistir e com ajuda de próximos,  amigas de colégio que iam estudar música na Europa, e de seu tio, George Krug,  que financiou a viagem, Anita viajou para a Alemanha,  e lá, recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger, um retratista que dominava a técnica pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim. e acabou sendo aluna de outro pintor renomado, Lovis Corinth.

Então, em 1913, inicia as suas aulas com o professor Ernst Bischoff-Culm, que era da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade social-política, que era o prénuncio da guerra de 1914,  a tempo, Anita Malfatti resolve deixar Berlim e indo rapidamente à Paris, volta ao Brasil. Quando eclodiu a guerra, em 1914, Anita tinha 24 anos. Sem condições financeiras e não querendo abandonar as Artes, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho. Como suas obras não haviam sido do agrado do senador brasileiro do qual dependia para uma bolsa de estudos, e com o estouro da guerra na Europa, o tio, mais uma vez, a embarca para os Estados Unidos, e em 1915, ela começa na tradicional Art Student's League.

Daí para diante, mesmo com os percalços da guerra, causando dificuldades em todo o mundo, e dificultando as locomoções entre países estrangeuros, Anita deu prosseguimento a sua jornada como artista.

Mas foi em 1917, dois anos depois, que Anita reuniu 53 obras suas e com forte tendência expressionista, herança do que estudou e viu na Europa, almejando com o evento, expor individualmente em São Paulo, no que intitulou o evento de “Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti”. Porém, foi em 1922, participou de outro evento, a Semana de Arte Moderna do Brasil, onde, nesta exposição que tornou-se um marco do movimento modernista no Brasil, consagrou definitivamente o seu trabalho. 

 A Semana de Arte Moderna, que ficou famosa mundialmente como a Semana de 22, chocou muitas pessoas, na verdade, as de mentalidade provinciana que, de certa maneira, não estavam preparadas para compreender a inovação estética expressa na arte dos artistas modernistas. E com isso, a crítica foi impiedosa, mas como sempre, o mundo tem que caminhar e tornou-se o início de uma marcante parte da História da Arte no Brasil e um evento que hoje faz parte do ensino das Belas Artes no mundo inteiro, ao se citar a Arte no Brasil, e como foram muitos movimentos rechaçados pelos "cínicos" de arte, aqueles que viviam de ganhar dinheiro explorando artistas, mas que de arte nada mesmo entendiam, pois não faziam arte, em sua maioria.

Um dos críticos azedos de seu trabalho, foi o escritor Monteiro Lobato, que, depois de visitar a exposição, publicou no jornal “O Estado de São Paulo” o artigo intitulado “Paranoia ou mistificação?”, no qual critica as obras da artista, e tão logo, seu argumento foi rebatido por Oswald de Andrade. 

Pessoalmente, considero paranóia ou mistificação "O Sítio di Pica-Pau Amarelo", que apesar de baseado em lendas, causos e crendices do povo brasileiro, é bem mais surreal que qualquer obra pintada e exposta na Semana de 22. Acho interessante as críticas vindas de certos colegas de notoriedade. Suas palavras e análises parecem carregadas de uma só coisa: a maldade vinda da inveja.

Mais tarde, Anita realizou seu sonho de estudar Artes na França, pois em 1923, Anita ganhou uma bolsa para estudar em Paris. Em Paris, Anita conheceu alguns importantes pintores como o cubista Fernand Léger (1881-1955) e o impressionista Henri Matisse (1869 - 1954) entre outros do movimento modernista.

De volta ao Brasil, ao lado de Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, formaram o “Grupo dos Cinco", que defendiam as ideias e a importância da Semana de Arte Moderna como um divisor de águas na cultura das Artes Plásticas e do comportamento no Brasil.

Dentre as suas obras mais conhecidas do público e expostas, estão:



O Homem Amarelo, pintado em 1915.



Auto-Retrato, de 1922.



O Burrinho Correndo, de 1909 (nesta ocasião, numa fase entre naturalismo e impressionismo, Anita assinava como "Babynha", seu apelido. A partir de 1914, passou a assinar seu próprio nome).



Retrato de Fernanda de Castro, 1922.



Tropical, de 1917



Retrato de Mario de Andrade, 1921.



Foto da artista, Anita Malfatti,

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A arte de Anna Cossant _ Cavvalet ©