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sábado, 4 de dezembro de 2021

Arte própria _ Quietude Noturna


 Chega a noite...os pássaros miram o espaço em busca da direção. O céu se pinta de azul e violeta, as árvores esmaecem os seus verdes.

Silêncio: ele vai tomando o ambiente. Só se ouve o pio e o farfalhar de asas. Amanhã, quando o sol raiar, eles voltarão.


Arte própria _ Crepúsculo Multicor


 

A paisagem 'vaza' para transparecer o agito multicor da tarde se esvaindo e a noite chegando com luzes frias e quentes.

O Homem pequeno diante da grandiosidade da natureza selvagem: floresta.

Arte _ Um pouco sobre Maria Prymachenko

Pigeons, 1968, Maria Prymachenko.

 


Maria Prymachenko (1908-1997) foi uma pintora de arte popular de uma aldeia ucraniana, representante da arte ingênua

 



. A artista era adepta do desenho, bordado e pintura em cerâmica Laure. Maria foi uma artista do povo da Ucrânia. Pablo Picasso disse uma vez depois de visitar uma exposição de Prymachenko em Paris: "Eu me curvo diante do milagre artístico deste brilhante ucraniano."

 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Fauvismo _ uma libertação genial

FAUVISMO

Por que o fauvismo era genial?

Os artistas deste movimento não se preocupavam com os aspectos da composição na pintura, nâo porque não tinham estudo ou prática de Desenho e Pintura Acadêmica ou Clássica, mas porque pois sabiam que, na verdade, com as qualidades expressivas que a interpretação individual causa nas pessoas, é que a Arte é, de fato, reconhecida e sentida pelo povo que se torna expectador da obra.

Já esteve diante de um quadro maravilhoso, de um artista famoso, uma obra célebre. de quem os curadores falam e babam, e as pessoas têm que gostar, ainda que não lhes diga nada de especial, porque é o que foi imposto para elas, pois isso é cultura?

Então, é exatamente essa a sensação que como artistas eles conheciam bem e por isso queriam romper com toda a baboseira cultural imposta ao público. Eles disseram, "chega" aos academicistas (ou acadêmicos) com a sua nova proposta.

Lembro que quando eu estudava arte, o meu professor, me repreendia pelo uso das cores puras. E eu dizia: _ As cores existem e foram feitas para se usar!

Os fauvistas, que foram comparados à feras, pelo crítico de arte Louis Vauxcelles comprovaram esse ponto, quando, em Paris, no Salão de Outono, o público tinha à sua disposição uma única obra clássica, mas, de fato, se encantou com a profusão de cores puras e linhas simples, sem o compromisso com técnicas elaboradas, realismo ou a perfeição.

Eram artistas e como tal podiam manusear a realidade o quanto desejassem para expressar a coisa vista e a coisa não vista.

O objeto se transformava em arte pela livre expressão destes artistas livres.

No Fauvismo a interpretação é simples e clara, ela torna a arte algo acessível à todos e não a um público dominante e selecionado dentre as classes mais abastadas.

O Fauvismo nasceu em 1901, na França, precisamente em Paris, como dito antes, todavia, ele só foi reconhecido como uma corrente artística, ou movimento, em 1905, cerca de quatro anos depois que fizeram a primeira aparição pública no "Salão de Outono", em Paris. No ano seguinte, em 1906, já com outros artistas que aderiram à classe, eles organizaram uma exposição no "Salão dos Independentes" e foi nesse que o grupo recebeu o nome 'Les Fauves', a expressão francesa que significa “as feras”.

Os artistas foram chamados de "feras", ou "selvagens", quando o pomposo Louis Vauxcelles (1870-1943), presente a exposição, tentou descrever a sensação que sentiu ao observar uma única obra clássica cercada pelas pinturas fauvistas do salão.

Evidentemente, não se ofenderam, pois certamente esperavam pelas provocações. Sem medo de enfrentar os cânones tradicionais da arte, o Fauvismo constituiu-se como num estilo de pintura da arte do equilíbrio, da pureza, da exaltação dos instintos e das sensações vitais, constituído pelas impressões visuais impetuosas dos artistas em suas telas.

Além disso, o Fauvismo evitou os temas mais deprimentes. A arte fauvista não expressa o que deprime ou oprime a alma do ser humano. È alegre, é bela, é colorida, é apreciada pelos de pureza infantil. O Fauvismo relegou ao segundo plano aspectos como a construção matemática da forma e do conteúdo, buscando apenas representar assuntos leves e alegres, sem conotação política ou crítica, afinal a arte não tem que se moldar ao espírito coletivo, mas, sim, ao individualismo, a essência e percepções de cada um, como ser.

Como então identificar entre as características mais marcantes o artista do movimento fauvista: o fauvista utiliza de cores puras, nada de misturas, cinzas, pretos, cores inventadas e que não estão na natureza.

Usa o emprego arbitrário da cor. O fauvista não tem combinações e níveis cromáticos, usa livremente as cores primárias, secundárias e terciárias e simplifica as formas, evitando angulos perfeitos e matemáticos, linhas pensadas e trabalhadas, evita a reprodução fotográfica. O fauvista não tem compromisso com a representação fiel à realidade, afinal a arte é recriar o que se vê de forma artística e não reproduzir uma foto pintada. O uso de cores fortes e vibrantes como  a secundária violeta, ou roxo, o verde, o laranja, também secundária e as primárias, amarelo, azul e vermelho são utilizadas de modo arbitrário e sem correspondência da escala ou círculo cromático. Para os fauvistas, estas cores, sempre em seu estado puro, simplificam as formas, delimitando e modelando o volume, por meio de uma gradação imperceptível ou inexistente de matizes de cor.

Outro aspecto importante são as pinceladas largas e espontâneas, com as quais os artistas fauvistas usando as cores, delimitavam os planos e criavam a sensação de profundidade de suas obras.

Pelo uso da cor e desprezo pelas marcações realistas, tem a influência da arte primitivista, onde o Homem expressava sua arte, segundo o seu desejo e molde natural, como um esboço da figura real, uma prévia do panorama de uma pintura final. Para o fauvista, o ser humano e capaz de identificar o objeto segundo suas linhas e cores, não havendo a necessidade de maiores efeitos para a sua interpretação. De fato, com linhas dedutíveis, nem sempre completas e figuras  assimétricas, os quadros pintados pelos fauvistas podem ser imediatamente identificados por qualquer ser humano, pela beleza das cores e a simplicidade de linhas. O Fauvismo é um movimento de influência da arte pós-impressionista.

Apesar de não ser uma corrente artística coesa e organizada, o Fauvismo reuniu artistas que compartilharam características comuns nas suas pinturas durante aquele período importante da História da Arte e do mundo, que se desenvolvia e se industrializava ainda mais.

Dentre os nomes que influenciaram o movimento Fauvista, estão Raoul Dufy (1877-1953), Paul Gauguin (1848-1903), Van Gogh (1853-1890), Henri Matisse (1869-1954 ), Paul Cézanne, que muitos confundem com pintor impressionista, na verdade, ela era fauvista (1839-1906), Georges Braque (1882-1963), que adaptou o seu pontilhismo à técnica fauvista, Albert Marquet (1875-1947), Andre Derain (1880-1954), Jean Puy (1876-1960), Kees Van Dongen (1877-1968), Maurice de Vlaminck (1876-1958), e outros na Europa. 

No Brasil, tivemos, sim, fauvistas, e ainda temos! Dentre os brasileiros na História da Arte, temos muitos nomes, embora a adesão em terras brasileiras, tenha sido menor que na Europa, onde se deu o seu ápice, mas, de qualquer forma, é fato que, ainda hoje, as características do Fauvismo podem ser vistas em muitas obras de artistas nacionais.


E o o Fauvismo não influenciou apenas o cenário artístico brasileiro. Ele também esteve e está presente nos principais aspectos dessa corrente, vistos em outros estilos de produção e em artistas nacionais ou ao redor do globo. Isso mostra que embora seja mais lembrado o Classicismo, o Romantismo, e outros movimentos, como o Impressionismo e o Expressionismo, o Fauvismo teve e tem sua importância até hoje.

Dos nomes brasileiros a engrossar alista dos fauvistas, tivemos Arthur Timótheo da Costa, um dos principais artistas do fauvismo no Brasil, que com suas pinceladas fortes, cores vivas e elementos vibrantes e emotivos, atestou o primitivismo presente da natureza, deixando belas obras na memória artística brasileira. Alguns críticos não consideram Arthur Timóteo um fauvista, mas, observando as obras de Paul Cézanne, pode-se ver que a influência fauvista é a tônica do trabalho de Arthur.

Outro artista do Fauvismo no Brasil, que utilizava algumas características do estilo, foi Mário Navarro da Costa. Entre os exemplos de pinturas que carregavam esses atributos de cores fortes e linhas não muito definitas ou exatas, está o quadro “Porto de Leixões”, executado pelo pintor, mas o que realmente pode ser sem medo, classificado como fauvista sim, sem sombra de dúvida e que é válido iapesar dos dois artistas supracitados trabalharem bastante com características dessa corrente, o mais conhecido do Fauvismo no Brasil foi Inimá José de Paula.

A obra, a seguir, é de sua autoria e representa, de maneira intensa, o fauvismo no Brasil, ao contar com cores vibrantes e apresentar temática leve.


Andre Derain


Henri Charles Manguin


Georges Braque


Henri Matisse

H.Matisse, Madame Matisse, sua esposa.


Henri Matisse


Maurice de Vlaminck


Albert Marquet


Matisse


Andre Derain



Paul Gauguin


Paul Cezanne


Edward Munch


Franz Marc, auto retrato


Franz Marc


Franz Marc


Franz Marc, Ovelhas


Paul Cezanne, Uma Olympia Moderna



A arte do Shuimohua



A arte do Shuimohua (ou Sumi-e Japão e 수묵화, Korea):

Ao contrário do que muitos pensam, a arte do Sumi-e é uma técnica de pintura oriental chinesa. O Shuimohua (水墨畫) surgiu na China no século II da Era Cristã e algum tempo depois, essa técnica foi levada da China para o Japão, onde o shuimohua, se tornou, lingüisticamente, o sumi-ê tornando-se mais conhecido.  Já a palavra sumie, ou sumi-e, tem raiz japonesa e significa 'pintura com tinta' (墨絵) ou Suiboku-ga (水墨画) é muito treino, grande habilidade e concentração. Não se trata de uma arte onde se risca o desenho, mas ele é criado no próprio movimento do pincel, dando às pinceladas a realidade das formas, de maneira rápida e precisa, segundo a habilidade e talento do desenhista. Na Koreea, é chamado a arte do sumughwa 수묵화.
  
Para se fazer um shuimohua (ou sumie), é preciso treinar, e dependendo do aluno, por muitos anos, pois, trata-se de uma arte que exige precisão no manuseio do pincel e da tinta, o que requer atenção e paciência, por isso, os chamados mestres, só atingiam este estágio, após muito tempo treinando. 
Além disso, o material usado pelo artista é bem limitado, ele dispunha de pincéis (alguns de crina ou pelo do rabo dos cavalos),uma tinta especial parecida com o nanquim e a tintura expelida pelo polvo ou lula, e papel artesanal à base do cereal arroz.
 
O Shuimohua, 수묵화 sumughwa, ou sumi-e, não tem ligação com a pintura praticada no ocidente. Essa arte é uma fusão de desenho com elementos de caligrafia, o que também é uma arte para os orientais, pois os kanjis, ou ideogramas, tanto na lingua chinesa quanto na japonesa, são representados por desenhos, onde um só símbolo, muitas vezes representa uma palavra inteira do ocidente. Segundo, porque o artista deve passar sua mensagem de modo resumido e sem equívocos ou delongas. Daí a dizer-se, tanto no oriente quanto no ocidente, que essa é a arte do essencial. Talvez para atingir essa simplicidade, é que o sumi-ê é basicamente monocromático, algumas vezes, tendo um toque de cor pura, principalmente, as cores primárias do azul e vermelho em alguns detalhes, para dar uma nova vida ao trabalho sem sair da criação original e tradicional, e também em muitas pinturas antigas, há tons de verde e ocre.

A representação do tema importa menos do que a composição do trabalho. Na composição, que segue regras bastante rígidas, o artista revela o seu pensamento, a sua essência, na elegância do traço e principalmente a harmonia que deve existir no seu interior e nos componentes do seu trabalho.

No Brasil, a introdução da arte do shuimohua data de 1812, quando a imigração chinesa 1812, que antes estava em Macau, chegou com pessoas ligadas à monarquia brasileira, na época do reinado de D. João VI, com a vinda dos chineses para introduzir o cultivo de chá no país. Eles iniciaram as primeiras lavouras experimentais no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e na Fazenda Imperial de Santa Cruz, sendo esta arte trazida pelos prováveis adeptos da pintura entre estes.

Já, mais comumente chamada no Brasil, a arte do sumi-ê, talvez tenha sido difundida a partir do trabalho de Massao Okinaka, pintor japonês nascido em Kyoto em 1913, que chegou ao Brasil em 1932 e que se radicou em São Paulo. Massao ensinou a técnica a seus alunos, até que faleceu no ano de 2000. Por muitos anos, ele manteve classes de alunos interessados em aprender essa técnica milenar, entre os brasileiros nativos.

Pinturas conhecidas, e algumas, sem a data específica, continuam agradando aos olhos e aos corações dos apreciadores das belas artes.



Tang Yin (1470-1523)



Wang Hui, artista chinês, 1622-1722


Li Sixun, artista chinês




Ma Lin, atista chines, Aroma de primavera após a Chuva



Saimdang Shin, a primeira mulher notória das Artes na Korea, mãe do filósofo Yi I  (1504-1551).



Viagem dos Sonhos à Terra dos Pessegueiros em Flor, de An Gyeon (Gado), período Joseon_Korea.


An Gyeon - Cheonboguyeo, período Joseon (Korea)


Cachorrinha com Filhotes Yi Am, período Joseon, Korea.



Saimdang Shin _ Flores, Insetos, Melancias e Ratos (Cho-Chung-Do)


Saindang Shin (1504-1551) Korea



sábado, 5 de setembro de 2020

Cubismo


CUBISMO

Os"ismos" vieram para sacudir o mundo artístico. Vale perceber, pois não é difícil, que o pintores do impressionismo, expressionismo, fauvismo, cubismo, futurismo e outros ismos têm tudo em comum. Eles têm formas e cores.
 
Ao se pensar em cubismo, relembramos algumas obras de cores austeras, que vão do branco ao negro, passando às nuances de cinza, não necessáriamente 50 tons, e com uma pitada de havana esmaecido, um ocre opaco ou um suave tom de castanho. Mas o cubismo não se resumiu a isso. Essa tímida entrada de uma nova proposta com cores acadêmicas não durou muito. E o cubismo resplandeceu com muitas cores, e puras, como a dos fauvistas.

Pablo Picasso, assim como George Braque, seguiram a lição de Cézanne, dando inicio à geometrização dos elementos da paisagem e do uso das cores puras e vibrantes. Sim, Cézanne. 

Mas...Você aprendeu que Cézanne era impressionista? Por causa da contemporaneidade com outros impressionistas e o traço não realista. É, mas também ouviu falar que Cézanne era fauvista. Por causa das cores fortes, quase puras, principalmente ao pintar paisagens com um verde quase puro e um ocre avermelhado vibrante e fazer uso do roxo e do amarelo. Verdade. Por isso, eu digo que os "istas" são da mesma família.

Alguns artistas passearam entre movimentos da Arte. Por isso, essa concepção é comum. Mas, historicamente falando, quando pensamos em um artista que, conhecidamente, transformou o desenho do objeto em linhas geométricas, porém assimétricas, foi Cézanne. Sua maçã e seus pêssegos não eram redondos, e seus vasos de flores tinham formas fragmentadas.

Por isso, é normal dizer que o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Para Cézanne, a pintura não podia desvincular-se da natureza, tampouco copiava a natureza; de fato, a transformava. 

Paul Cézanne, deixou a explanação a respeito quando disse e foi registrado, que _ “Mudo a água em vinho, o mundo em pintura”. E era verdade. Em suas telas, a árvore da paisagem ou a fruta da natureza morte não eram a árvore e a fruta que conhecemos – eram a pintura. Essa é a verdadeira arte. Não a que imita ou copia um registro igual ao da natureza, um registro idêntico ao que vê o olho humano, mas a que é criada sobre as coisas que se vê e conhece no mundo em formas e cores transformadas.

Na sua pintura, as referências exteriores que as identificavam como árvore ou fruta, eram um fato, podia entender de imediato que tratava-se destes modelos, mas, elas adquiriam uma outra substância: eram criações do mundo pictórico na visão do artista e não do mundo natural, como numa foto, uma representação igual ao que se vê. Por isso, não é raro se dizer que Cézanne pintava numa zona limite, ou seja, na fronteira da natureza e da arte.


Quando George Braque enviou alguns quadros para o Salão de Outono de 1908, onde Henri Matisse, como membro do júri, os viu e comentou: “Ele despreza as formas, reduz tudo, sítios, figuras e casas, a esquemas geométricos, a cubos”. Essa frase, citada por Louis Vauxcelles, o mesmo pomposo crítico irônico de arte, que nomeou como os 'Les Fauves', (ou feras), os artistas que em meio a uma única peça de arte acadêmica, ou chamada clássica, apresentaram obras de cores puras, sem traço ou forma com comprometimento com a realidade, mas que no entanto, chamavam a atenção do público, e caíam no gosto da visão de uma criança. A arte feita para se ver com o coração, não com a teoria dos eruditos.

O artista cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes.

Num períodico da época, o Gil Blas, em 1908, descreveu o cubismo que foi criticado segundo a reação de Vauxcelles, e por fazer direta insinuação ao cubo, o que de fato parece, este ficou sendo o nome dado ao movimento.Todavia, o cubismo não parou no exemplo de Cézanne. Os artistas adeptos do movimento passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano.  Sem dimensões. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas. Bem a linha das feras, ou os fauvistas.

Para mim, e para alguns, com certeza, Vauxcelles é a prova de que o preconceituoso querendo atrapalhar, dá a ferramenta exata para que haja uma novidade, uma criação, uma transformação em algo já tradicionalmente estabelecido na sociedade.

Como principais características da pintura cubista, é notório que há uma geometrização das formas e volumes; existe a renúncia à perspectiva (às favas! _ não fauves) e na composição em, no máximo, duas dimensões;
a técnica sobra e luz, ou, claro e escuro perde sua função para dar uma representação do volume colorido sobre superfícies planas. No cubismo há preferência pelas linha cortadas, cruzadas e aleatórias. O espectador tem a sensação de estar vendo uma escultura e não uma pintura. Por muitos foi chamada de "pintura escultórica".


Depois de Cézanne e seus seguidores, na fase cezannista ou cezaniana que durou de 1907 a 1909, ou seja, a fase da Influência do francês Paul Cézanne, o cubismo se dividiu em duas fases distintas, que sabemos, é a do Cubismo Analítico, iniciada em 1909, caracterizado pela desestruturação da obra em todos os seus elementos, decompondo a obra em partes. 

Nesse caso, o artista registra todos os elementos em planos sucessivos e superpostos, procurando a visão total da figura, antes examinada em todos os ângulos simultâneamente, através da fragmentação dela. Essa fragmentação dos seres foi tão grande, que se tornou impossível o reconhecimento de qualquer figura nas pinturas cubistas.  Isso pode ser constatado em algumas obras de Pablo Picasso, por  exemplo, antes da fase da cor, quando a cor se reduzia aos tons de branco, castanho, cinza e preto.

Já em 1911, o chamado Cubismo Sintético, fez seu debut, com uma excessiva fragmentação dos objetos e em desmembramento de sua estrutura. Resumindo, essa tendência procurou tornar as figuras novamente reconhecíveis. Também chamado de "Colagem"  porque introduz letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal e até objetos inteiros nas pinturas. Essa inovação pode ser explicada pela intenção dos artistas em criar efeitos plásticos e de ultrapassar os limites das sensações visuais que a pintura sugere, despertando também no observador as sensações táteis. Foi a mãe, ou melhor, o "pai das instalaçôes" contemporâneas.

Como artistas ligados ao cubismo, lembramos sempre de Pablo Picasso, nascido em 8 de abril de1881 e falecido em 1973, com um fato curioso e emocionante, envolvendo o cubista: tendo, Picasso, vivido 92 anos e pintado desde muito jovem, até próximo à sua morte, passou por diversas fases: a fase Azul, entre 1901-1904, que representa a tristeza e o isolamento provocados pelo suicídio de Casagemas, um velho amigo de Pablo, são evidenciados pela monocromia e também representando para ele, a miséria e o desespero humanos. Depois, ele teve a fase Rosa, entre 1904-1907, um Picasso apaixonado, o amor por Fernande, origina muitos desenhos sensuais e eróticos, com a paixão de Picasso pelo circo, iniciam-se os ciclos dos saltimbancos e do arlequim. Depois de descobrir as artes primitivas e africanas compreende que o artista negro não pinta ou esculpe de acordo com a tendência de um determinado movimento estético, mas com uma liberdade muito maior. Então, inspirado, Picasso desenvolve uma verdadeira revolução na arte, em 1907, pintando Les Demoiselles d’Avignon, que esteve até um tempo escondida em seu atelier, como um "experimento" e que deu muiuto certo. Com elas, Picasso começa a elaborar a estética cubista que, como vimos, se fundamenta na destruição da estrutura e harmonia clássica das figuras e na decomposição da realidade. Essa tela subverteu o sentido da arte moderna, com a declaração de guerra em 1914, e chega ao fim a aventura cubista. Chega ao fim? Não! Esses traços viveram para sempre nas obras de Picasso.

Quando, em 1937, a obra Guernica foi mostrada pela primeira vez na Exposição Internacional de Paris, houve mais um avanço da arte. A tela Guernica, na verdade um painel, foi concebido e executado com grande rapidez em seu estúdio em Paris. Picasso pretendia que seu quadro fosse uma denúncia contra a s mortes que estavam destruindo a Espanha, na terrível Guerra Civil que foi de 1936 até meados de 1939, e contra a perpétua desumanidade do Homem com o seu próximo. Nada mudou, não é?

A motivação de sua pintura, foi imediata, e reproduzida no quadro. Essa razão, a essência da pintura, foi o sofrimento causado pela destruição de Guernica, capital da região basca, no dia da feira da cidade, em 26 de abril de 1937. Durante o dia, os aviões nazistas, sob as ordens do general Franco, atacaram a cidade indefesa. De 7 mil habitantes, segundo dados levantados, de 1645 a 1954 foram mortos e 889 ficaram feridos.

Outros artistas que foram ligados ao movimento e deixaram obras memoráveis são: Entre os artistas plásticos, Juan Gris, que em 1914, pintou o  Homem no Café, Paul Gauguin, Georges Braque, como já falamos anteriormente, junto com Cezanne, Fernand Léger, Lyonel Feininger, Kazimir Malevich, Umberto Boccioni, Diego Rivera, Robert Delaunay, Piet Mondrian, para falar alguns, e aqui no Brasil, alguns pintores que usaram a técnica, como já explicamos antes sobre as classificações e atribuições feitas à artistas, mas não se pode dizer que tenham sido exclusivamente cubistas, foi a Tarsila do Amaral, o Vicente do Rego Monteiro, o Di Cavalcanti, Juarez Machado, a Anita Malfatti, entre outros.





Albert Gleizer




Alexey Von Jawlinsky



Anita Malfatti



Pablo Picasso



Auto Retrato, Picasso



Roger de La Fresnaye


Juarez Machado



Juarez Machado



Juarez Machado




Roger de La Fresnaye



quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Pintores Renomados Brasileiros _ Anita Malfatti


Anita Malfatti foi uma pintora, de fato, talentosa, mas o que muitos não sabem sobre ela, é que ela representou bem mais do que isso. Para dedicar-se às Artes Plásticas, Anita teve de vencer o desafio de uma artrose deformante e condicionar a sua mão esquerda para aprender a pintar. Anita Malfatti foi um exemplo de superação em muitas situações na vida. E um detalhe: ela teve de fazer isso, ainda criança, quando começou a ter suas primeiras aulas de arte, com cerca de nove anos de idade.

Filha de imigrantes, um italiano e uma norte-americana, Anita nasceu em 1889, no dia 02 de dezembro, e logo se percebeu que tinha uma atrofia causada pela artrose, que atingiu o braço e mão direita, causando paralisia, mas que com a perseverança que tinha e a ajuda que obteve através de aulas com Mrs. Browne, Márcia P. Browne, que foi uma educadora americana que veio à São Paulo, a convite de Horacio Lani, a pedido de Caetano de Campos, com a finalidade de organizar o ensino primário numa escola americana, anexa ao Colégio Mackenzie. Ao que parece, a instrutora Marcia, foi quem ministrou-lhe aulas e lhe ensinou a dominar o movimento da mão esquerda, embora sendo ainda uma criança, foi incentivando Anita a continuar almejando seus interessses artísticos.

Anita iniciou seus estudos em 1897, em 1903 foi para a Escola Americana e enfim, seguiu seus estudos até a formatura de normalista em 1906 no Colégio Mackenzie. Um período pós a morte de seu pai, Samuelle Malfatti, sua mãe, Elizabeth Krug, precisou dar aulas particulares de idioma (inglês) e de pintura, sob a orientação de um pintor conhecido da família, chamado Carlo de Servi e de cuidar de um parente acamado (sua avó), restando-lhes poucos recursos para que ela conseguisse ir à Paris, seu sonho, e estudar Arte, nesta época, Miss Browne já não se encontrava no Brasil, pois, havia retornado aos Estados Unidos. E foi com a mãe, pois Anita acompanhava as aulas que tomavam a maior parte de seu tempo, que Anita entrou com firme pé, no mundo das artes plásticas.

Sem desistir e com ajuda de próximos,  amigas de colégio que iam estudar música na Europa, e de seu tio, George Krug,  que financiou a viagem, Anita viajou para a Alemanha,  e lá, recebeu a sugestão para estudar no ateliê do artista pintor Fritz Burger, um retratista que dominava a técnica pontilhista ou divisionista. Foi o primeiro mestre alemão de Anita. Nessa época ela ingressou na Academia de Belas Artes de Berlim. e acabou sendo aluna de outro pintor renomado, Lovis Corinth.

Então, em 1913, inicia as suas aulas com o professor Ernst Bischoff-Culm, que era da mesma escola de Corinth. Com a instabilidade social-política, que era o prénuncio da guerra de 1914,  a tempo, Anita Malfatti resolve deixar Berlim e indo rapidamente à Paris, volta ao Brasil. Quando eclodiu a guerra, em 1914, Anita tinha 24 anos. Sem condições financeiras e não querendo abandonar as Artes, montou no dia 23 de maio de 1914, uma exposição com obras de sua autoria, exposição essa que ficou aberta até meados de junho. Como suas obras não haviam sido do agrado do senador brasileiro do qual dependia para uma bolsa de estudos, e com o estouro da guerra na Europa, o tio, mais uma vez, a embarca para os Estados Unidos, e em 1915, ela começa na tradicional Art Student's League.

Daí para diante, mesmo com os percalços da guerra, causando dificuldades em todo o mundo, e dificultando as locomoções entre países estrangeuros, Anita deu prosseguimento a sua jornada como artista.

Mas foi em 1917, dois anos depois, que Anita reuniu 53 obras suas e com forte tendência expressionista, herança do que estudou e viu na Europa, almejando com o evento, expor individualmente em São Paulo, no que intitulou o evento de “Exposição de Pintura Moderna Anita Malfatti”. Porém, foi em 1922, participou de outro evento, a Semana de Arte Moderna do Brasil, onde, nesta exposição que tornou-se um marco do movimento modernista no Brasil, consagrou definitivamente o seu trabalho. 

 A Semana de Arte Moderna, que ficou famosa mundialmente como a Semana de 22, chocou muitas pessoas, na verdade, as de mentalidade provinciana que, de certa maneira, não estavam preparadas para compreender a inovação estética expressa na arte dos artistas modernistas. E com isso, a crítica foi impiedosa, mas como sempre, o mundo tem que caminhar e tornou-se o início de uma marcante parte da História da Arte no Brasil e um evento que hoje faz parte do ensino das Belas Artes no mundo inteiro, ao se citar a Arte no Brasil, e como foram muitos movimentos rechaçados pelos "cínicos" de arte, aqueles que viviam de ganhar dinheiro explorando artistas, mas que de arte nada mesmo entendiam, pois não faziam arte, em sua maioria.

Um dos críticos azedos de seu trabalho, foi o escritor Monteiro Lobato, que, depois de visitar a exposição, publicou no jornal “O Estado de São Paulo” o artigo intitulado “Paranoia ou mistificação?”, no qual critica as obras da artista, e tão logo, seu argumento foi rebatido por Oswald de Andrade. 

Pessoalmente, considero paranóia ou mistificação "O Sítio di Pica-Pau Amarelo", que apesar de baseado em lendas, causos e crendices do povo brasileiro, é bem mais surreal que qualquer obra pintada e exposta na Semana de 22. Acho interessante as críticas vindas de certos colegas de notoriedade. Suas palavras e análises parecem carregadas de uma só coisa: a maldade vinda da inveja.

Mais tarde, Anita realizou seu sonho de estudar Artes na França, pois em 1923, Anita ganhou uma bolsa para estudar em Paris. Em Paris, Anita conheceu alguns importantes pintores como o cubista Fernand Léger (1881-1955) e o impressionista Henri Matisse (1869 - 1954) entre outros do movimento modernista.

De volta ao Brasil, ao lado de Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia, formaram o “Grupo dos Cinco", que defendiam as ideias e a importância da Semana de Arte Moderna como um divisor de águas na cultura das Artes Plásticas e do comportamento no Brasil.

Dentre as suas obras mais conhecidas do público e expostas, estão:



O Homem Amarelo, pintado em 1915.



Auto-Retrato, de 1922.



O Burrinho Correndo, de 1909 (nesta ocasião, numa fase entre naturalismo e impressionismo, Anita assinava como "Babynha", seu apelido. A partir de 1914, passou a assinar seu próprio nome).



Retrato de Fernanda de Castro, 1922.



Tropical, de 1917



Retrato de Mario de Andrade, 1921.



Foto da artista, Anita Malfatti,

A arte de Anna Cossant _ Cavvalet ©